Três perguntas

Suzana Barelli

Conversamos com Suzana Barelli, colunista especializada em vinhos. Nessa edição de Três Perguntas – que viraram quatro, Suzana, socióloga por formação, respondeu de forma bastante assertiva as perguntas que fizemos.

Suzana Barelli

Suzana tem larga experiência em diversos veículos de comunicação. Atualmente é colunista de vinhos do Paladar, do Estado de São Paulo e, este ano, recebeu o prêmio de Personalidade do Ano Américas, da ViniPortugal. Mas ela já escreveu sobre vinhos para as revistas Menu e Prazeres da Mesa e para os jornais Folha de São Paulo e Valor.

O que é preciso fazer para descomplicar o vinho e encorajar o consumidor brasileiro?
Primeiro, parar de falar em descomplicar o vinho. O termo descomplicar indica que o vinho é complicado, o que não é, necessariamente. E incentivar o consumo da bebida de maneira mais simples. Se não pensamos muito quando vamos beber uma cerveja, por que temos de pensar antes de provar um vinho?

Eu acredito no caminho de oferecer o vinho de maneira mais espontânea, sem tantas regras. É provando que o consumidor vai descobrir. E sentir, possivelmente, a necessidade de entender mais sobre a bebida. O mundo do vinho é fascinante, em suas histórias, em seus aromas, sabores e na sua peculiaridade. Mas, para isso, primeiro o consumidor tem de se encantar com o que tem na taça para, então, começar a querer saber mais.

Se eu oferecer um vinho para quem quer entrar neste mercado explicando que a Cabernet Sauvignon é uma variedade originária de Bordeaux, que nasceu no cruzamento da Cabernet Franc com a Sauvignon Blanc, ele vai fugir da bebida e realmente achá-la complicada. Mas se eu oferecer uma taça deste mesmo Cabernet e comentar “olha que legal como este vinho é frutado”, o consumidor vai beber feliz. E um dia vai querer entender porque alguns vinhos tem aromas que lembram ameixas e groselhas e outros cerejas.

Na sua experiência, quais critérios o brasileiro utiliza para escolher um vinho?
O brasileiro escolhe vinho por preço e por indicação. A indicação pode ser de um amigo que sabe um pouco mais, de um jornalista que ele confia, de um influencer. O preço é um fator importante. Esta é também a aposta do GUIA DOS VINHOS, que é um produto que acabei de lançar no mercado, em parceria com três amigos que o mundo do vinho uniu (Beto Gerosa, Marcel Miwa e Ricardo Cesar). São quase 600 rótulos que foram degustados às cegas, claro, por faixas de preço. Até R$100, de R$101 a R$200 e de R$201 a R$300. Exatamente por sabermos que o preço é um fator importante nesta escolha.

Além do jornalismo especializado que é o seu trabalho, no segmento do vinho o que mais você gostaria de fazer e em que você jamais se envolveria?
No mundo do vinho, eu tenho alguns projetos para o futuro. Um deles é escrever um livro sobre vinhos e mulheres. Eu fui uma das primeiras mulheres jornalistas a escrever sobre vinho no Brasil e pude acompanhar o surgimento de muitas mulheres neste mundo. Quando comecei, quase não tínhamos enólogas ou sommeliers, e hoje são muitas. Tenho vontade de contar esta história. E eu jamais teria uma importadora de vinhos ou trabalharia com venda de vinhos. Não tenho vocação para a parte comercial e já acompanhei tantas histórias de complicações de importação, que sei que não é para mim.

E como estão as mulheres no mundo do vinho? Você vê um aumento da participação feminina em quais atividades?
Legal essa pergunta. Meus primeiros textos sobre vinho foram no final dos 1990. Em meados dos anos 2000, decidi que queria trabalhar nesta área. São pouco mais de 20 anos e o cenário mudou completamente. Antes, as degustações, almoços e jantares com produtores de vinho eram encontros masculinos e muitas vezes eu era a única mulher presente. Era difícil encontrar enólogas e sommeliers nos restaurantes. Hoje, é uma realidade completamente diferente. Não vou citar nomes para não esquecer ninguém, mas a quantidade de boas profissionais mulheres é enorme, não apenas no Brasil como em todo o mundo do vinho. O preconceito é bem menor e as mulheres têm o seu lugar de fala. Isso não quer dizer que o preconceito ou as dificuldades de gênero tenham acabado. Mas que as mulheres estão conquistando um espaço importante no mundo do vinho.

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