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Bons ventos do Chile e da Argentina

Recebemos a visita dos enólogos chileno Marco De Martino e do argentino Matias Riccitelli. Uma prova de vinhos que exibiu os novos rumos da moderna enologia dos dois países

Bons ventos do Chile e da Argentina

Marco (abaixo) pertence à 4ª geração da família e é hoje o responsável pelos renomados rótulos da vinícola que leva o nome de sua família.  Com sede em Isla del Maipo, a cerca de 50 km de Santiago, Marco vinifica com maestria as uvas provenientes de centenas de vinhedos espalhados por distintas regiões chilenas, desde o remoto Valle del Itata, no sul, ao Valle Elqui, no norte do país.


Marco De Martino


Matias Riccitelli

Filho do renomado enólogo argentino Jorge Riccitelli, o jovem Matias desenvolveu suas habilidades trabalhando em outras vinícolas, até dar início a sua produção autoral, em uma pequena vinícola situada em Las Compuertas, na zona mais alta de Luján de Cuyo, uma das principais regiões eno-turísticas da América Latina e mundialmente famosa como uma das frações mais cobiçadas da Província de Mendoza. Com pequenos vinhedos próprios e um meticuloso trabalho junto à uma rede de pequenos produtores locais que cultivam variedades menos comuns, Matias produz vinhos de grande qualidade e elegância.


Para a prova dos vinhos, o objetivo foi encontrar um local fora do circuito tradicional. Foi escolhido o pequeno e acolhedor Restaurante Cora, localizado no centro da cidade de São Paulo.


Dentre os vinhos apresentados, o Riccitelli Blanco de La Casa 2021 (acima), um inusitado corte elaborado com 40% de Sauvignon Blanc, 40% de Sémillon e 20% de Chardonnay, provenientes do Valle de Uco. As três variedades são vinificadas separadamente e o vinho permanece durante seis meses amadurecendo em ovos de concreto. Pronto para o consumo imediato, tem ainda um excelente potencial de guarda estimado em cinco a seis anos. Muito aromático, com notas de frutas brancas e maçã verde, no paladar tem grande frescor, deliciosa acidez e persistência.


Da esquerda para a direita, Marco De Martino, Ricardo Carmignani, Diretor da Winebrands,
Rafaela Figueiredo, Gerente de Produtos da Winebrands e Matias Riccitelli

Outro rótulo apresentado ao time de jornalistas presentes à degustação foi o singular Riccitelli Bastardo (abaixo), elaborado com a uva Bastardo, pouco conhecida do grande público.


A Bastardo é o outro nome da Trousseau, uva francesa originária do Jura. As uvas são provenientes de vinhedos antigos plantados ao final dos anos 1960 na região de Allen em Rio Negro. Matias recuperou estes vinhedos e os mantém com manejo orgânico. Essa variedade é tradicionalmente de baixo rendimento.

O vinho é fermentado apenas com leveduras nativas e permanece por oito meses em barricas usadas de carvalho francês. Está pronto para beber mas tem um excelente potencial de até dez anos de guarda. No que diz respeito à sua estrutura, pode-se dizer que remete vagamente à Pinot Noir, porém com identidade própria. De cor vermelho rubi médio, tem aromas exuberantes de frutas vermelhas e notas de ervas frescas. No paladar, é frutado, delicado, elegante e com taninos polidos.


O Olho de Boi em leite de castanhas, cítricos e pimenta surpreendeu os convidados por sua delicadeza
e harmonizou muito bem com o Riccitelli Blanco de La Casa 2021.


À esquerda, Calamar, tomates, grão de bico e azeitona e,
à direita, Couve-flor, abóbora, grão de bico e sésamo


O branco De Martino Single Vineyard Tres Volcones Chardonnay 2017 (abaixo) tem um método de produção peculiar. A uva Chardonnay utilizada em sua elaboração vem de vinhedos cultivados no distante e pouco conhecido Valle de Malleco, no extremo sul do Chile. Sua colheita é manual e sua fermentação é espontânea, somente com leveduras naturais. O mosto fermenta em barricas usadas borgonhesas de 228 litros e, posteriormente, amadurece durante 12 meses em foudres usados de carvalho austríaco de 2.500 litros, garantindo que a madeira seja incorporada ao vinho de forma lenta e delicada.


O clima frio de sua região de cultivo se reflete no aroma de notas cítricas, maçã verde e ervas frescas. Um Chardonnay exuberante, de grande frescor, de paladar cremoso, suculento, com notas lácticas e acidez marcante e estrutura para amadurecer por cerca de 10 anos.

Cada rótulo apresentado tem um meticuloso método próprio de elaboração, resultando em vinhos de grande personalidade, história e identidade próprias.

Um dos rótulos que surpreenderam nesta prova foi o De Martino Cellar Collection Viejas Tinajas 2014. Difícil descrever esse vinho, surgido à partir de um corte das uvas Cinsault e Carignan originárias de duas regiões costeiras, de grande pluviometria e solos graníticos, Maulino e Itata. O vinho é fermentado em antigas e grandes ânforas de cerâmica – daí o seu nome Viejas Tinajas. Complexo e personalíssimo, aos nove anos exibe notável juventude e frescor.


O aroma complexo e inusitado mescla notas de rosas secas, alguma compota de frutas vermelhas, um toque terroso e de folha secas. No paladar é elegante, fino, de corpo médio e de acidez moderada. Excelente acompanhamento para carnes brancas, pratos levemente condimentados e embutidos.

Os vinhos do Chile e da Argentina apresentam-se cada vez mais diversos. Resta evidente que o excelente trabalho desenvolvido pelos dois enólogos se distingue do tradicional, que normalmente se traduz em vinhos encorpados e alcoólicos, com opulência de fruta, taninos e madeira – não raro, madeira demais. Justiça seja feita: há hoje nestes países muitos enólogos da nova geração que vem rompendo com esse padrão. Marco e Matias são, indiscutivelmente, dois expoentes dessa nova e bem vinda enologia.

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