bella itália

Diário da Sardenha

No ano passado nós estivemos na Puglia e, este ano, mudamos o rumo e escolhemos a ilha da Sardenha, com cerca de 2.000 km de encostas e praias. Eu já conhecia a ilha, já havia percorrido e explorado sua porção sul. Difícil dizer onde é mais bonito

Diário da Sardenha

Como curadora de viagens e eventos para a Itália, um dos meus maiores prazeres é organizar também as minhas próprias férias com meu namorado. Reconheço – ele também é um bom planejador e, assim, dividimos sempre esta tarefa. As férias de verão são um ponto alto do nosso ano Italiano, pois aqui a época mais fria se estende desde a metade de outubro até a metade de abril. Então, imagine a expectativa na hora de escolher onde passar nossas férias de verão.


Iniciamos a pesquisa por lugares de mar e praia, pois ainda temos muito para conhecer na bota, país com uma costa extensa e praias maravilhosas. E escolhemos a Sardenha – desta vez, decidimos pela região da Gallura, no norte oriental da ilha. Esta região, coberta de colinas, tem muito verde com florestas e bosques intocados, bosques com sobreiros, as árvores que produzem as rolhas para as garrafas de vinho. É na ilha que se encontra uma grande indústria de rolhas, a maior da Itália e uma das maiores no mundo.


Nós gostamos de alugar casas durante as nossas férias e misturar com alguns dias em hotel, mudando de uma região para a outra. Achamos uma casa maravilhosa no topo da colina, com vista para o mar e para a ilha francesa da Córsega, bem diante de nós. Um lugar encantado, de silêncio e paz para descansar.

A ilha da Sardenha é uma das terras mais antigas da Itália com seus primeiros habitantes em 1.500 AC. Por isto, é um lugar pontuado por mistérios e ruínas destes povos antigos chamados “nuraghi”. Atualmente, a Sardenha tem cerca de 1,6 milhões de habitantes. Quando chegamos, fomos recebidos por um lindo arco-íris, pois eram dias de vento e chuva. Aproveitamos para explorar a nossa pequena aldeia próxima a casa, chamada Aglientu. Lá, nos deram indicações sobre o mercado de peixes, a padaria, a loja de vinhos e o pequeno supermercado. Abastecemos a casa com várias iguarias, como pescado fresco, frutas e verduras, pão e vinho branco típico de duas uvas locais: Vermentino di Gallura e tinto, de Cannonau. A uva Cannonau tem esse nome curioso exclusivamente na Sardenha – na Espanha e na França seus nomes são muito mais conhecidos: Garnacha e Grenache, respectivamente. Não conheço muitas vinícolas sardas e, num primeiro momento, escolhemos os vinhos numa faixa de preço de 15 euros por garrafa.


Nosso plano – com muito vento nos primeiros dias, foi encontrar um lugar da ilha onde não ventava. A vantagem de curtir as férias de carro é que existe esta possibilidade. Então, nosso primeiro mergulho no mar foi em uma praia protegida do vento pela encosta, na verdade uma praia rochosa, algo normal em ilhas. Para andar nas rochas e cair na água, usamos um calçado especial de borracha para não machucar os pés.

Nos dias seguintes o vento cessou e continuamos explorando as diversas praias e encostas da ilha. Nosso raio de exploração era no mínimo 40 minutos e, no máximo, uma hora de carro de distância da casa. E o que esperar das praias na Sardenha? Nesse aspecto, não foi diferente de minha visita anterior: uma sucessão de praias, uma mais linda que a outra, um verdadeiro Caribe Italiano. Há praias para todos os gostos: com areia branca, com rochas, com areia e cascalho e, sempre, uma água completamente transparente, raramente com ondas, piscinas deliciosas com uma temperatura em torno de 20-23 ºC, ideal para o quente verão italiano.

Na Sardenha o turismo é muito eclético e tem escolhas para todos os gostos e bolsos. A parte norte da ilha, chamada de Costa Esmeralda, pelos tons do mar, é cheia de hotéis luxuosos, restaurantes sofisticados e alguns estrelados Michelin, e cidades criadas para atrair quem pode e quer gastar (como Porto Cervo e Porto Rotondo). Por outro lado, conservam a sua autenticidade com cidades normais, como Santa Teresa in Gallura ou a charmosa San Pantaleo.


No norte, há uma encosta repleta de ilhas, o Arquipélago La Maddalena, a Ilha Tavolara, digna de ser explorada com mais de um passeio de barco, que pode ser particular com um almoço ou em uma saída de grupo. E as encostas do Golfo de Orosei nada deixam a desejar.

Atravessamos a ilha de norte a sul de carro, chegando também na encosta próxima a Cagliari, chamada Porto Pino. A praia de Porto Pino, com as dunas de areia branca e mar calmo são de tirar o folego. E, apesar de sempre muito requisitada para o turismo, não estava lotada, pois estávamos no final de Agosto..

Vocês podem me perguntar: mas ela descreve a Sardenha com foco nas praias e mar? Sim, a Sardenha é para que curte férias em praias e mar, desde um beach club com estrutura de restaurante e duchas de água doce (pagando de 35 a 50 euros uma diária para duas cadeiras de praia e guarda sol, até uma praia deserta ou selvagem, sem qualquer estrutura.  As cidades da Sardenha não são as mais bonitas na “Itália de mar” – a Puglia e a Sicília ganham neste quesito. Porém, não tem lugar na Itália onde a gastronomia e o vinho se destaquem mais do que o outro. Cada região tem sua excelência, e digo, sempre imbatível. Assim é a Itália!


As férias terminaram, com dor no coração. Dias inesquecíveis e voltaremos com certeza. Os vinhos que degustei na Sardenha foram específicos de produção da região da Gallura, zona que se encontra na parte norte oriental e se estende até a província de Olbia-Tempio. É uma zona muito próxima ao mar, caracterizada por rochas de granito, com a parte interna da região coberta por bosques de quércias. Este tipo de solo, associado à constante insolação, dá aos vinhos aromas intensos e ótima acidez. A minha vinícola preferida na região é a Siddùra e meu vinho predileto foi o Bèru, um Vermentino delicado e de grande personalidade. Não bebemos muitos vinhos tintos, porque não cabiam tanto na gastronomia que escolhemos e também por causa do clima quente. Eu havia levado na mala um vinho laranja que tinha adquirido em minha última incursão ao Trentino Alto Adige, de uma pequena vinícola biodinâmica familiar, Dornach, do produtor Patrick Uccelli. Mas esse é outro assunto, para uma próxima coluna.

Algumas dicas importantes sobre o turismo na Sardenha:

Melhor época do ano: maio-julho / meados de agosto a meados de setembro
Onde chegar por via aérea: cidade de Olbia 
Se você nunca foi: explore incialmente o norte da ilha 
Como se locomover: necessário alugar um automóvel      
Principais atividades & experiências na ilha: passeio de barco, snorkeling, trekking, visita a vinícolas, pôr do sol em beach club, balada em danceterias e visita a ruínas de Nuraghi
Planejamento: recomendo iniciar três a quatro meses antes da data da sua viagem                                    

Patricia Kozmann
Curadora de eventos e viagens, vive na Itália há 12 anos, onde ampliou sua ampla experiência internacional no mundo do vinho, bem como no turismo de luxo na Itália, Sul da França e Marrocos.
www.kozmann.com

Diário da Sardenha

Leia também