Os Vinhos Tailandeses
Viagem

Os Vinhos Tailandeses

Texto e fotos: Johnny Mazzilli

Depois de quatro viagens à Tailândia, registrando sua riqueza culinária e sua caleidoscópica comida de rua, cheguei pela quinta vez a este encantador país do sudeste asiático com a missão de fotografar para um livro sobre as tradições culinárias do antigo Reino do Sião.

Eu tinha também outro objetivo: visitar duas vinícolas. Eu já havia experimentando duas vezes anteriormente, vinhos do país. Em ambas as ocasiões, a experiência foi decepcionante. Agora, era a hora de conhecer outros produtores que me foram muito bem recomendados. Mesmo assim, foi inevitável algum ceticismo: Como é possível produzir bons vinhos em um país tropical, sem qualquer tradição de viticultura e sim um clima extremamente quente e úmido?


Na Tailândia, país de clima classificado como tropical úmido, são poucas as regiões mais amenas, que alternem dias de calor não muito intenso e noites frescas. Khao Yai é um destes lugares. Lá, na estação da seca, a paisagem árida e montanhosa contrasta com o verde intenso dos vinhedos irrigados da vinícola GranMonte, situada no fundo do Vale Asoke. Faz calor de dia, mas bem menos que as sufocantes temperaturas que rondam as áreas mais próximas da capital Bangkok, a aproximadamente 120 quilômetros de distância.


As noites em Khao Yai são um oásis, com temperaturas que chegam a 16ºC. A vinícola é uma propriedade familiar com 40 hectares de vinhedos, produz ao redor de 90.000 garrafas anuais, de 15 rótulos de vinhos brancos, rosés, tintos e um espumante, a partir de variedades como Syrah, Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Grenache, Viogner, Verdelho, Chenin Blanc, Muscat, Semillon e Durif (Petit Syrah), sempre utilizando somente fermentação natural e leveduras nativas, sob a coordenação da competente enóloga Nikki Lohitnavy.



Nikki é uma pessoa adorável e uma celebridade no mundo dos vinhos da Ásia. Recebeu diversas premiações internacionais e aparece em capas de revistas de vinhos. Viaja o mundo incansavelmente através de diversas regiões vitivinícolas para aprofundar seus conhecimentos. Em sua propriedade também são produzidas frutas secas, doces e uma série de produtos gastronômicos de qualidade, à base de insumos fornecidos por pequenas propriedades ao redor.


Todos muito bem feitos, os vinhos têm em comum o frescor e a boa acidez, sem grande complexidade. Quase 50% da produção é de rótulos tintos. E, quem diria, a GranMonte exporta mais de 50% de seus vinhos para o Japão, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Suíça e França – sim, a França compra um volume expressivo da produção da GranMonte. É curioso pensar que, em Paris, alguém pode estar sentado à beira do Sena, jogando conversa fora e bebericando descontraidamente um vinho tailandês.


Degustei todos os rótulos, dos quais dois se destacaram: um espumante elaborado em método clássico com 100% de uvas Chenin Blanc e o surpreendente Orient Shiraz, um tinto de qualidade superior, produção limitada a 3.000 garrafas anuais e que recebeu vários prêmios internacionais. Esse vinho é elaborado a partir de uvas selecionadas de três vinhedos de baixo rendimento, plantados em solo de argila vermelha e boa drenagem. A colheita manual acontece sempre durante a noite e se encerra antes do amanhecer, para preservar os aromas das uvas. Macerado longamente a baixa temperatura, o vinho estagia em barricas novas e de segundo uso de carvalhos francês e americano. O Orient é elegante, com aromas de frutas vermelhas como cereja e ameixa, toques de chocolate e especiarias. Na boca, é rico, aveludado, com taninos finos e uma discreta nota mentolada.


A vinícola tem ainda uma confortável guest house, com 10 quartos acolhedores, com um vinhedo que se esparrama logo abaixo das janelas dos quartos e um acolhedor restaurante, o VinCotto, que serve deliciosos pratos da culinária típica do oeste da Tailândia, bem como clássicos internacionais, que podem ser harmonizados com os rótulos da vinícola. O restaurante é excelente, o que contribuiu para a Granmonte se tornar uma referência em enogastronomia na região do Khao Yai.


Após visitar o Khao Yai National Park, em cuja borda se situa a GranMonte, tomei o rumo de Hua Hin, uma pequena cidade costeira. Lá, visitei a vinícola Monsoon Valley Vineyards, fundada em 2001 por um empresário tailandês amante de vinhos. Seus vinhedos estão localizados em colinas geograficamente mais próximas à costa, onde o calor é severo. A Monsoon produz espumantes, brancos, roses, tintos e até um vinho de sobremesa, a partir de uvas como Merlot, Shiraz, Sangiovese, Colombard, Viogner, White Malaga, Chenin e Muscat. Aqui, novamente me deparei com vinhos frescos e bem elaborados.


Kathrin Puff, enóloga chef, diz “produzimos uma linha de vinhos simples e despretensiosos, ideais para o consumo diário”. Destaque para o excelente branco Colombard, de grande frescor e marcante acidez. A vinícola tem estrutura turística maior que a GranMonte, com piano bar, degustações, restaurante, jeep tours pelos vinhedos e outras atividades.


Vinícolas
Granmonte, Khao Yai – www.granmonte.com (é possível se hospedar na vinícola)
Hua Hin Hills – (Monsoon Valley), Hua Hin – www.monsoonvalley.com

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