News

Pinot Noir Day

Não há um único dia do ano que não seja comemorativo de alguma coisa, e hoje é dia de celebrar a Pinot Noir, uma das uvas mais renomadas e mais utilizadas da história da viticultura mundial

Pinot Noir Day

A variedade é nativa da França – mais precisamente da região da Borgonha. Os primeiros registros de sua existência são dos gauleses e remontam ao longínquo ano de 150 AC. Cultivada desde os tempos do Império Romano, ela é responsável por dar origem a vinhos célebres e inesquecíveis. Em 1395, Felipe, Duque da Borgonha, proibiu o cultivo da variedade Gamay na Cote D’Or, por considerá-la inferior a Pinot Noir.

No passado, quase todos os bons vinhos dessa variedade eram elaborados em sua região original. Com o avanço do conhecimento e a evolução da vitivinicultura, a Pinot Noir foi levada a diversas regiões do mundo e seu cultivo tem sido bem sucedido em lugares como a Nova Zelândia, o estado norte americano do Oregon e em variadas regiões do Chile, como na porção norte da Patagônia.


Assim como na França e em muitos outros lugares, a Pinot Noir rende não somente tintos cobiçados, de grande personalidade e tipicidade, mas também é muito utilizada na elaboração dos melhores Champagnes e espumantes, tanto como uva única como em frequente associação com a Chardonnay, conhecida por sua versatilidade e consistência como a rainha das uvas brancas. Na produção de Champagnes, é também utilizada em cortes (blends) com outra uva francesa, a Pinot Meunier, por sua vez nativa da região de Champagne.


Se fosse preciso eleger uma só qualidade para adjetivar os vinhos produzidos com essa variedade, diríamos que seria “elegância”. Seja em suas versões mais leves e delicadas, elaboradas na Borgonha, até seus exemplares mais robustos e encorpados, como seus congêneres chilenos, onde geralmente há mais presença de fruta, de álcool e de estrutura, a Pinot resulta em vinhos muito elegantes, de estrutura delicada, aroma e paladar complexos. De um modo geral, os aromas primários mais reconhecíveis na Pinot Noir estão relacionados à frutas vermelhas, como cereja e morango e notas terrosas e de cogumelos. Há muitos vinhos de Pinot Noir prontos para beber assim que são elaborados, mas alguns, com algum tempo de guarda podem evoluir para aromas mais complexos, como couro, tabaco e amadeirados.


À esquerda, o exclusivo Riccitelli Old Vines from Patagônia Pinot Noir 2020, um exemplar frutado, delicado e elegante, de corpo médio e agradáveis notas terrosas. À direita, o Les Jamelles Pinot Noir Pays D’OC 2021, produzido na região francesa do Languedoc, conhecida por seu clima ensolarado e quente. Um vinho
de cor rubi, frutado, com notas florais e um toque delicado de baunilha.

O outro lado da moeda é que o cultivo e a vinificação desta variedade são inescapavelmente difíceis e complexos. Temperamental e de difícil adaptabilidade, requer um delicado equilíbrio climático: clima fresco, umidade moderada, amplitude térmica média e, sobretudo, trato cuidadoso no vinhedo. Se o excesso de frio empalidece seus sabores, muito calor causa amadurecimento excessivo e prejudica a elegância. De baixo rendimento, a Pinot Noir apresenta cachos pequenos de cor violeta intenso, bagos delicadamente pequenos, redondos e de casca fina. Apresenta poucos taninos e bem menos pigmentação do que outras variedades tintas. Dela se originaram outras uvas, como a Pinot Gris e Pinot Blanc, e estudos de DNA conduzidos nos últimos 30 anos apontam que pelo menos outras 16 uvas têm em sua origem a Pinot Noir, como a Chardonnay, Malbec, Muscadet e Gamay, esta última certamente uma mutação da Pinot Noir. O cultivo de Pinot Noir fora da França é relativamente recente. Há menos de 40 anos foi plantada na Nova Zelândia, Austrália, USA e Chile, lugares onde vem apresentando notável evolução. Não podemos deixar de mencionar a belíssima região italiana da Umbria, onde é chamada de Pinot Nero e rende vinhos de grande personalidade. A passagem por barricas é bem-vinda, porém deve ser feita com muito critério e cuidado, a fim de não arruinar sua delicadeza.


Acima, o exuberante De Martino Legado Gran Reserva Pinot Noir 2020, de delicada tonalidade rubi, aroma de frutas vermelhas como franboesa e morango, notas florais e de folhas secas. No paladar, excelente frescor, taninos muito sutis e textura acetinada. Sem dúvida, um dos mais destacados exemplares de Pinot Noir da pujante enologia chilena.

Outras variedades originárias da França que posteriormente se tornaram uvas internacionais, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, tem maior adaptabilidade e, com isso, espalharam-se pelo mundo e dão origem a vinhos muito distintos entre si, de acordo com a latitude, o clima e o solo onde são cultivadas e, claro, os processos de elaboração. A Pinot Noir, por sua vez, é muito mais exigente e melindrosa. Há muitos casos de vinhedos dessa casta que, após o plantio e alguns anos de cuidados, investimento e sucessivas tentativas com resultados desanimadores, foram cortados e outras variedades foram enxertadas. E vida que segue.

Leia também