Vamos lá: Primeiro, atentemos para a terminação “logo”, que exprime a condição de estudioso ou especialista. Sendo assim, enólogo, ornitólogo, zoólogo e arqueólogo são pessoas que estudam e se especializam respectivamente em vinhos, aves, animais e remanescentes de civilizações antigas. Portanto, enólogo é o sujeito que cria, que produz os vinhos. É ele que, juntamente ao agrônomo – quando ambos não são a mesma pessoa – escolhe as uvas que devem ser plantadas em determinado terreno, é o enólogo (e o indispensável agrônomo!) que acompanha(m) o desenvolvimento das uvas, que determinam o melhor momento para as podas, é o enólogo que seleciona as porcentagens das uvas que entrarão na composição de um vinho (se for um vinho de corte, ou seja, um vinho produzido por mais de uma variedade de uvas), é ele que determina aspectos do processo fermentativo, como o tempo e a temperatura que a fermentação deve ocorrer, se serão leveduras comerciais disponíveis ou se o vinho fermentará espontaneamente apenas com as leveduras nativas, ou seja, micro organismos que já estavam presentes nas cascas dos frutos, que momento a fermentação se dá por encerrada; é o enólogo que determina o estilo dos vinhos que serão produzidos, que escolhe se estes amadurecerão em barricas de carvalho (quais? Carvalho francês ou americano? Húngaro ou croata?), ou, ainda, se o vinho irá direto dos tanques de fermentação para a garrafa, sem estagiar em barricas, se será filtrado ou não e assim por diante. Portanto, em última instância, o enólogo é o maior responsável pelas sensações incríveis que temos quando apreciamos um bom vinho. Ele é, digamos, o “pai da criança”. Ou a mãe.

A enóloga Ully Povoa, na vinícola Lichen, Mendocino, Califórnia

E enófilo, o que é? Neste caso, a terminação “filo” quer dizer “amigo de”, ou “aficionado em”. Portanto, enófilo, cinéfilo e bibliófilo são, respectivamente, “amigos” dos vinhos, dos filmes e dos livros. E ao enófilo cabe o quê? Nada que diga respeito à concepção ou produção da bebida – o enófilo é o apreciador de vinhos, em menor ou maior grau. Pode ser desde uma pessoa que não tem grande interesse no conhecimento sobre o vinho, limitando-se a comprar e beber por gosto puro e simples, até aqueles que tem uma aguçada curiosidade por tudo que diz respeito a esse universo, sempre disposto a ler, experimentar, ir à degustações, comprar rótulos desconhecidos de uvas pouco conhecidas, fazer viagens para regiões vitivinícolas, apreciar harmonizações, que é a combinação do vinho com a comida, é o enófilo que reúne amigos em confrarias, onde cada um leva seu(s) vinho(s) e, ao longo do evento tecem seus comentários e considerações. Muitos escrevem sobre vinhos em redes sociais, blogs e sites e estão continuamente aprendendo.

Enófilos em uma degustação numa vinícola no Vale del Maipo, Chile

E o sommelier, o que faz? A visão mais comum que temos do sommelier é a do sujeito que vai à mesa dos clientes nos restaurantes e lhes sugere vinhos de acordo com o que pretendem comer. Se um cliente é frequentador de um determinado restaurante, o sommelier o conhece e sabe dos gostos dessa pessoa, sabe de sua disposição para gastar mais ou gastar menos com vinhos e, de acordo com esse conhecimento, ofertará os vinhos mais adequados ao cliente em questão. Mas o sommelier é muito mais que isso. Ele é o profissional responsável, num restaurante, por selecionar os rótulos que entrarão na composição da carta de vinhos, é ele que gerencia o fluxo de compras da bebida, seu custo benefício, é o sommelier que administra a relação com as importadoras, que fica de olho nas oportunidades das importadoras e de produtores de vinhos, aproveitando promoções e lançamentos de novos vinhos e vai atualizando e renovando a carta de vinhos.

Portanto, se o enólogo é responsável pelas sensações de encantamento que desfrutamos ao experimentar certos vinhos, o sommelier é co-responsável por, muitas vezes, nos apresentar tais vinhos.

Acima, o sommelier Bruno Taddeucci, do Restaurante Casa Santo Antônio

Por fim, vale lembrar a famosa frase:
“O enólogo é aquele que, diante do vinho, toma decisões, e o enófilo
é o que, diante de decisões, toma vinho”