Vinho e Saúde

Blue Zones – o segredo para a longevidade

Cientistas observaram que em alguns poucos lugares desse nosso imenso planeta as pessoas ultrapassavam a fronteira dos 100 anos de idade. Então, começaram a estudar esses lugares para tentar entender por que isso acontecia

Blue Zones – o segredo para a longevidade

Esses lugares foram chamados de Zonas Azuis e são apenas 5: a região da Barbagia di Nuoro, localizada na Sardenha, Itália; a província de Okinawa no Japão; a península de Nicoya na Costa Rica; a ilha de Ikaria na Grécia e Loma Linda na Califórnia (EUA). Nessas cinco regiões, seus habitantes não só são longevos como permanecem em atividade e são extremamente saudáveis. Em Nuoro encontra-se a maior concentração de homens centenários do planeta. Na ilha de Ikaria há a menor taxa de demência do mundo. Loma Linda possui uma expectativa de vida de 10 anos a mais que o resto dos Estados Unidos. Em Okinawa observamos a maior concentração de mulheres com mais de 70 anos da Terra e em Nicoya está a segunda maior concentração de homens centenários.

E qual o segredo? O que faz com que as pessoas desses lugares vivam tanto? A maioria dos artigos e livros relatam nove pilares como receita para a longevidade, características comuns que foram encontradas nessas comunidades. É um conjunto de fatores, sem grande destaque individualmente, mas que quando juntos afetam fortemente a nossa saúde e produzem longevidade.

O primeiro deles é o movimento. Manter-se ativo, seja por exercícios diários, seja pelo estilo de vida simples que leva as pessoas a realizarem suas tarefas diárias quase sempre a pé (muitas vezes em terrenos acidentados, subindo e descendo morros ou fazendo longas caminhadas). Não ao sedentarismo!

Ter um propósito para viver. Essa sensação traz mais sentido à vida e dá a motivação diária necessária para enfrentar os problemas e a rotina. Em Okinawa chamam isso de “aquilo que faz a vida valer a pena” (ikigai) e entre os habitantes de Nicoya de “plano de vida”. Aqueles que têm um propósito ao levantar pelas manhãs ganham sete anos extras de vida!

Alívio do estresse. O estresse leva à inflamação crônica que está associada às principais moléstias da velhice. Nessas regiões as pessoas não vivem estressadas. Levam uma vida mais tranquila, sem a loucura das cidades grandes. Os habitantes de Okinawa reservam alguns momentos dos dias para lembrar de seus ancestrais, os adventistas de Loma Linda rezam, os gregos de Ikaria tiram uma soneca diariamente e os habitantes de Nuori costumam ter seu “happy hour”.

A alimentação saudável é fundamental. Grande parte da dieta dessas pessoas é aquela que chamamos de dieta mediterrânea composta de verduras, frutas, legumes, oleaginosas, mel e cereais.


O equilíbrio alimentar também é muito importante. Não basta comer os alimentos certos, é também fundamental não exagerar nas quantidades. Em Okinawa dizem que devemos sair da mesa quando atingirmos 80% da saciedade. Uma alimentação pequena no final da tarde ou princípio da noite e nada mais até o dia seguinte.

Colocar a família em primeiro lugar. Manter pais e parentes idosos por perto ou em casa. Importante respeitar a velhice. A proximidade entre gerações promove o senso de respeito à velhice e o entendimento que envelhecer é algo bom. O convívio social é um dos fatores muito importantes para a longevidade. É uma fonte importante de gratificação, que libera “neurotransmissores de felicidade” (vide nosso artigo anterior). O senso de comunidade, apego à família, as relações de amizade e a boa convivência nos faz longevos.

Ter fé! Não importa a crença ou religião, a espiritualidade é um fator essencial para a vida longa. Estudos comprovam que ter fé contribui para que as pessoas tenham mais saúde e nas Zonas Azuis as diversas religiões desempenham um papel importante na vida de seus habitantes.

Viver em comunidade, entre pessoas com a mesma afinidade contribui com a adoção de comportamentos saudáveis e o cuidado mútuo com os demais membros do grupo. Risada! Não esquecer de dar muita risada com amigos! Em Okinawa incentiva-se a criação de grupos de cinco amigos que se comprometem a cuidar um dos outros pelo resto da vida.

E, finalmente, aquilo que nos interessa, o nosso vinho! Ou melhor, o resveratrol que está presente em nosso vinho. Esse composto antioxidante já está comprovadamente relacionado a uma vida saudável. O consumo moderado regular de vinho está presente na maioria dessas regiões, com exceção de Loma Linda por tratar-se de uma comunidade adventista, que extrai sua dose diária de resveratrol do suco de uva. Os habitantes das demais regiões costumam beber uma a duas taças de vinho diariamente.

São hábitos relativamente simples de se adquirir, uns mais fáceis outros mais difíceis, mas que podemos tentar incorporar na nossa rotina diária e garantir uma vida longa e saudável.

Aqui no Brasil duas cidades estão sendo acompanhadas por apresentarem características semelhantes àquelas encontradas nas Zonas Azuis: Veranópolis no Rio Grande do Sul e Maués na Amazonia.

Curioso é saber por que essas regiões receberam o nome de Zonas Azuis: simplesmente pela cor da tinta usada para marcá-las no mapa! Se non è vero, è bem trovato.

Blue Zones – o segredo para a longevidade

Carlos Eduardo Suaide Doutor em Ciências pela USP e Coordenador Médico da Cardiologia da DASA-SP

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